terça-feira, 11 de setembro de 2012
os meus meninos.
O titulo podia ser Voluntariado, os meus meninos são todos aqueles que passam pelo Hospital Pediátrico de Coimbra.Não sei bem como falar do assunto, ou começar a falar. Licenciada em Psicologia, actualmente em Mestrado de Psicologia Clínica: Intervenção Sistémica e Família, e com a ambição de trabalhar junto de crianças. Sempre ouvi dizer que era importante fazer voluntariado, para currículo, para realização pessoal, para dar somente... Quando tinha 7 anos fui operada e estive internada no HPC, e nos anos seguintes continuei a ser acompanhada. Talvez tenha sido esta a maior força a mover-me a esta acção. Cheguei no primeiro dia e deparei-me com a realidade. Sim as coisas existem, as coisas realmente existem, e aquela menina e mulher frágil como uma Maria Madalena e sensível como uma flor sorriu. Somente sorriu à criança com má formação no rosto, à criança sem cabelo, à criança sem capacidades intelectuais, ao abraço do menino, e da menina... As lágrimas ficam em casa. Só há espaço para lápis de cor, desenhos, colagens, coisas giras e engraçadas. É com as crianças que quero realmente trabalhar. Mas nem tudo é maravilha, como muitos dizem só para ficar bem vistos. Muitas vezes não tenho vontade, apetece-me ficar na cama mais umas horas, ou estou cansada. Se me passo? Quantas vezes não me apetece pegar numa criança pelo braço e mandar-lhe um berro. Não, não estou a ser cruel, estou a ser o mais sincera possível, mas também tenho a dizer que a culpa é de muitos pais, ou bestas (desculpem pessoas sensíveis) que se riem do filho que rasga o desenho da outra criança, ou dos que preferem usufruir de uma bela chapada só porque a criança decidiu sentar-se numa mesa, delicadamente pediu licença e pediu um desenho para pintar. Ou ainda temos aquelas crianças que roubam o material e o levam, depois de dizermos que os outros meninos também precisam. Mas no final são todos os meus meninos, eu pinto desenhos com eles, eu tento ter mil e uma ideias porque gosto de fazer todas estas coisas de crianças. Vou ainda focar mais um ponto, apesar de poder parecer egoísta. Mesmo sabendo que há problemas bem mais graves que o nosso, tristezas bem mais profundas que as nossas, cada coisa tem a sua dor, e nada pode apagar nada. Mas uma coisa é verdade, naquele pequeno espaço de tempo em que se isolam do mundo exterior, esquecem-se do resto por instantes. Passou-se um ano, e vou continuar, talvez outra coisa me mova. Talvez umas palavras sinceras de uma mãe que um dia com as lágrimas nos olhos me disse: "Fico tão feliz por tu estares junto daqueles meninos, eles precisam, tal como o R.P. precisou. Tu és tão querida, tão linda, e a juntar a isso tudo quando soube que estavas lá a fazer voluntariado fiquei a gostar ainda mais de ti." Obrigado.
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